segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

CARNAVAL - Oficina em Ceilândia resgata a tradição nordestina dos mamulengos

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Oficina em Ceilândia resgata a tradição nordestina dos mamulengos
Algodão (E) e o aluno Cláudio de Almeida, que é pastor e não brinca carnaval, mas utiliza bonecos em seu trabalho no teatro (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
Algodão (E) e o aluno Cláudio de Almeida, que é pastor e não
brinca carnaval, mas utiliza bonecos em seu trabalho no teatro

Thaís Paranhos
Publicação: 28/02/2011 06:59 Atualização:

O ator pernambucano Aguinaldo Algodão, 42 anos, mudou-se para Brasília em 1985, mas nunca esqueceu as tradições carnavalescas de sua terra. Natural de Olinda, ele trouxe na bagagem a técnica para a confecção dos famosos bonecos gigantes que enfeitam os carnavais de rua da cidade. Para não perder a tradição e passar para a frente tudo o que aprendeu, ele ministra uma oficina dessas peças que fazem a alegria das crianças nos dias de folia do bloco de rua Menino de Ceilândia. As aulas ocorrerão até 5 de março, sábado de carnaval, e os interessados ainda podem se inscrever. O curso é realizado em Ceilândia e o participante não paga nada.

Algodão é um dos fundadores do Menino de Ceilândia. Durante as oficinas, além de ensinar à comunidade um ofício, ele prepara os bonecos que serão usados no carnaval. “O grupo serve como uma referência para algumas pessoas que enfrentam uma fragilidade social. Esse aprendizado funciona como uma ponte, um outro caminho para elas”, acredita. Cerca de 20 pessoas se inscreveram para as aulas, mas esse número deve aumentar, de acordo com o presidente da Associação Cultural Menino de Ceilândia, Ailton Velez. A oficina existe há cerca de cinco anos, mas somente em 2011 a entidade resolveu abrir as portas a toda a comunidade.

Em poucos dias, Algodão deve finalizar 23 bonecos para serem usados nos dois dias de desfile do bloco Menino de Ceilândia (veja quadro). Boa parte deles já está praticamente pronta porque o ator aproveita as peças de um ano para o outro. Na sede da associação, está guardada uma peça que foi confeccionada em 1995, primeiro ano em que o bloco de rua circulou pela cidade. “Usamos bastante material reciclado: jornais, papéis, isopor… Não perdemos quase nada. E o que não é usado aqui, a gente passa para frente.”

Para confeccionar os bonecos, ele diz, basta a imaginação. Quem estiver trabalhando na peça tem liberdade para desenhar o rosto com a fisionomia que quiser, e o nome também fica por conta do criador. “Inventamos nossos próprios personagens. Procuramos nos afastar dessa veia política que o Pacotão tem, por exemplo. Depois de pronto, a gente olha para o boneco e se pergunta: ‘Esse aqui tem cara de quê?’.” Todos os bonecos são feitos de isopor e recebem uma pintura e roupas.

Apesar de não brincar o carnaval, devido à religião, o pastor Cláudio Alves de Almeida, 40 anos, morador de Ceilândia, encontrou na oficina uma oportunidade para aprimorar um trabalho de teatro na igreja da qual faz parte. Depois de aprender a técnica de confecção, ele pretende passar todo o conhecimento para os integrantes do grupo teatral. “Esses bonecos são grandes e chamam bastante atenção. Acredito que assim a gente pode divulgar ainda mais o nosso trabalho”, explica. Não é a primeira vez que Cláudio participa de uma oficina na sede da associação. O pastor já fez curso para a elaboração de projetos e produção de eventos.

Iniciativa
Uma das razões que levaram Algodão a criar o bloco Menino de Ceilândia foi a impossibilidade de viajar para Olinda. Em 1995, ele percebeu que não conseguiria sair de Brasília no feriado do carnaval para curtir a folia e decidiu fazer a festa por aqui mesmo. O nome do grupo surgiu devido a uma notícia de que Ceilândia tinha uma grande quantidade de meninas adolescentes que estavam grávidas. “Hoje esses filhos estão com 16 anos e muitos participam do nosso bloco. O Menino de Ceilândia é bem família, muitas crianças fazem parte da festa. Nunca houve nenhum incidente”, orgulha-se Algodão. Ele estima em 300 o número de integrantes do bloco que anima o público com frevo e marchinhas nos dias de folia.

Desde pequeno, Algodão trabalha com a confecção de bonecos. “Aos 10 anos, eu já ajudava os artistas no horário contrário às aulas lá em Olinda.” O ator veio a Brasília com o grupo de teatro do qual fazia parte e encantou-se com a cidade. Pouco tempo depois, estava morando aqui. E a habilidade para fazer esses trabalhos sempre esteve presente. Atualmente, Algodão faz as peças para vender em várias partes do país. “Os bonecos para o carnaval são feitos para dança. Mas faço peças de todos os tipos e que podem ser usadas para várias outras funções, como os bonecos de mamulengo”, explica.

O presidente da Associação Cultural Menino de Ceilândia, Ailton Velez, diz que a ideia de montar a oficina surgiu para expandir a técnica da confecção de bonecos em Ceilândia. “Criamos essa tradição aqui com o bonequeiro Algodão e não queremos perdê-la. Nosso objetivo é passá-la adiante”, diz. Ailton conta que encontrou no bloco Menino de Ceilândia uma forma de proporcionar um pouco de diversão para a comunidade, carente de opções de lazer. E assim essa arte tem sido passada para a frente.

Arte popular
Mamulengo é um tipo de fantoche típico do Nordeste brasileiro, especialmente no estado de Pernambuco. Há controvérsias em torno da origem desse nome: alguns acreditam que vem de “mão molenga”, ideal para dar movimentos vivos ao fantoche. Em Olinda, o Espaço Tiridá / Museu do Mamulengo reúne um acervo de aproximadamente 1.500 bonecos, preservando a tradição e a obra de artistas populares e também promovendo apresentações frequentes.

Programe-se
Asé Dudu
5 e 7 de março, das 16h às 24h
Local: Praça do DI, em Taguatinga

Galinho de Brasília
5 e 7 de março, das 16h às 24h
Local: SBS/SAUS, L1 Sul, Setor de Autarquias Sul (ao lado da Caixa Econômica), passagem pela 203 Sul, rumo ao Gran Folia

Mamãe Taguá
5 e 7 de março, das 17h às 24h
Local: Taguatinga CNB 14 rumo à Praça do DI

Pacotão
6 e 8 de março, das 11h às 24h
Local: CLN 302/303, via W3 Norte/Sul (na contramão)

Baratona
6 e 8 de março, das 17h à meia-noite
Local: Eixão Sul, concentração em frente à 109/110 Sul rumo ao Gran Folia

Raparigueiros
6 e 8 de março, das 17h às 24h
Local: Eixão Sul, concentração em frente à 109/110 Sul rumo ao Gran Folia

Baratinha
6 e 8 de março, das 15h às 22h
Local: Parque da Cidade, no estacionamento ao lado do Nicolândia

Menino de Ceilândia
6 e 8 de março, das 14h às 24h
CONCENTRAÇÃO
Local: EQNM 1/3, Via NM1,
Saida do Bloco às 17h Via M1 Ceilândia Sul Rua da Administração Regional, passando no meio QNM 03, subindo pela Via Leste, indo para o Centro de Ceilandia passando pela Caixa D'água e retornando a concentração 


Fonte: Ligas dos Blocos Tradicionais de Brasília

Últimos dias

Os interessados em participar da oficina de confecção de bonecos em Ceilândia podem entrar em contato pelo telefone 3373-2741. O curso é gratuito.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Blocos, orquestras e artistas anseiam por um local para o frevo em Brasília

Ana Clara Brant
Publicação: 19/02/2011 08:00 Atualização: 19/02/2011 01:26
http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/diversao-e-arte/2011/02/19/interna_diversao_arte,238579/blocos-orquestras-e-artistas-anseiam-por-um-local-para-o-frevo-em-brasilia.shtml

Olinda é aqui: Jorge Marino (à frente) e demais integrantes dos grupos de frevo de Brasília

“Pernambuco tem uma dança que nenhuma terra tem. Quando a gente entra na dança não se lembra de ninguém… É uma dança, que vai e que vem. Que mexe com a gente. É o frevo, meu bem!” Os versos do compositor pernambucano Capiba (1904-1997) resumem como poucos a magia e a efervescência desse ritmo brasileiro, nascido em 1907. Mais do que brasileiro, ele é essencialmente pernambucano e não se faz presente apenas em seu estado de origem, mas em outros cantos dos país.
Olinda é aqui: Jorge Marino (à frente) e demais integrantes dos grupos de frevo de Brasília (Sever J. Paz  e Pablo Alejandro sobre foto Rafael Ohana/CB/D.A Press )
Em Brasília, não é de hoje que se respira frevo por aqui. Segundo dados do historiador pernambucano Leonardo Dantas, os primeiros blocos desse gênero musical que surgiram no DF são datados de 1967: o Vassourinhas e o Lenhadores. Um ano depois, surgia o Pás Dourada. Já nas décadas seguintes, vieram o Batutas do Cruzeiro (1973) e o Bola de Ouro (1985). “Esses blocos nem existem mais e só na década de 1990 é que apareceram os novos como o Galinho de Brasília (1992) e o Menino da Ceilândia (1995). Não há como negar, até pela grande colônia de gente de Pernambuco e de outros estados do Nordeste, que a capital federal sempre teve frevo. É algo consolidado. Não existe carnaval em Brasília sem ele”, comenta o recifense Fabiano Medeiros, maestro da orquestra Marafreboi de Brasília, especializada em ritmos regionais como o maracatu, o bumba-meu-boi e, claro, o frevo.

Marcado, alegre, improvisado, descontraído e, sobretudo, espontâneo. Reza a lenda que a palavra frevo vem de ferver, por corruptela, “frever”, por isso, é sinônimo de agito, efervescência, rebuliço. Hoje, a partir das 14h, os brasilienses vão poder conferir um pouco dessa folia animada. A Troça Carnavalesca Mista (TCM) Suvaco da Asa vai fazer, pelo sexto ano consecutivo, a abertura informal do carnaval candango, levando o melhor do frevo para as ruas do Cruzeiro e do Sudoeste. O bloco nasceu de uma maneira despretensiosa, e foi crescendo ao longo dos anos. Já trouxe até uma legítima orquestra de frevo de Recife, mas, desde o ano passado decidiu fortalecer a cultura local. “Hoje, a gente tem a participação da orquestra de Brasília, a Marafreboi, que conta com músicos de vários lugares, inclusive de Pernambuco. O carnaval tem essa magia de levar as pessoas de uma maneira espontânea às ruas para fazerem o que bem entenderem, se vestirem como quiserem, e ainda sem precisar pagar ingresso. É maravilhoso isso”, comenta um dos diretores do Suvaco, Rodrigo Hilário.

Compositores
Para 2011, a grande novidade da troça é o lançamento do seu hino oficial, composto pelo pernambucano Zezinho das Candongas e por seu filho Fábio Liberal, que faz uma referência à balbúrdia e à irreverência dos seis anos do Suvaco da Asa. “Na verdade, o meu pai fez uma poesia em homenagem ao Suvaco há uns dois anos e então me pediram para eu fazer a melodia. Acabou virando o hino e vamos tocar muito durante o desfile”, revela Fábio. Apesar de compor esporadicamente, ele acredita que a cidade já tem uma safra de compositores de frevo locais, formada, principalmente, por pernambucanos aqui radicados ou gente de outros estados do Nordeste. “É um povo que tem paixão pela sua cultura, pela sua terra, e faz questão de propagar e manter as tradições mesmo de longe”, diz.

Um deles é Josildo Santos, 35 anos, alagoano que vive em Brasília há 16. Professor de percussão e um dos integrantes da Marafreboi, ele acaba de compor o hino do bloco Menino da Ceilândia. “A gente faz um trabalho de musicalização com as crianças e já temos muitas tocando, dançando e lendo partituras desse ritmo musical. Em breve, vamos ter muita gente criando mais frevo por aqui”, acredita. Para o fundador do bloco ceilandense, Aílton Velez, o trabalho desenvolvido é mais uma prova de que se tem frevo o ano inteiro em Brasília, já que o Menino da Ceilândia se apresenta todos os meses em diversos pontos do DF e também fora daqui. “Nossa origem está no frevo, e nossa associação, que também é um Ponto de Cultura, oferece oficinas de música, artes plásticas, cordel, além de apresentações artísticas para resgate e disseminação da cultura nordestina. O objetivo é capacitar e estar sempre formando mais gente ligada ao frevo”, destaca.

Um dos compositores mais tradicionais de frevo na cidade é Dinaldo Domingues, 70 anos, responsável pelos hinos de um dos blocos carnavalescos mais queridos da capital federal: o Galinho de Brasília. Saudoso do agito de sua terra natal, Pernambuco, o artista sempre fez questão de passar o carnaval por lá, mas em 1992, em virtude do confisco das poupanças dos brasileiros pelo então governo Collor, os foliões tiveram que encontrar uma alternativa para não perder a festa nacional mais aguardada do ano. “A gente ficou sem dinheiro para viajar e então criamos um bloco por aqui mesmo. Ele começou pequeno e hoje é essa festa grande que todo mundo conhece. Naquela época, não havia muito entrosamento entre o pessoal do frevo. Hoje, é bem mais forte e temos várias opções desse estilo na cidade”, reconhece Dinaldo.

Sombrinhas coloridas

Não se pode falar de frevo sem associá-lo à coreografia contagiante e ao seu elemento mais típico: a inseparável sombrinha colorida. Reza a lenda que o frevo é uma mistura de maxixe, marcha, quadrilha, danças europeias e, principalmente, dos movimentos e rasteiras da capoeira. Aliás, a sombrinha teria surgido dessa luta de rua. Os capoeiristas usavam guarda-chuvas velhos e usados como apoio para os passos e também como arma de defesa. Hoje, a sombrinha é o ornamento que mais caracteriza o passista e um dos principais símbolos do carnaval pernambucano. “Não há passista sem sombrinha e também sem animação, sem disciplina. O frevo tem uma energia tão intensa que não há como não se envolver”, ressalta um dos principais representantes do frevo na cidade que, curiosamente, é gaúcho de nascimento, mas pernambucano de alma e coração, o professor de dança e ex-administrador de empresas Jorge Marino, 69 anos.

Desfile do Suvaco da Asa

Concentração: hoje, a partir das 14h, no Quiosque da Codorna (Quadra 10 do Cruzeiro Velho). Desfile: a partir das 17h, pelas ruas do Cruzeiro e do Sudoeste.

Coceira no Suvaco
(Frevo de Fábio Liberal e Zezinho das Candongas)
(Em homenagem à Troça Carnavalesca Mista Suvaco da Asa)

O frevo é igual uma coceira,
Quando começa ninguém quer mais parar,
Coça aqui, coça ali, ai, ai
Coça acolá
Quanto mais a gente coça
Mais tá querendo coçar
Coça, coça, minha gente,
Ai que coceira profunda,
Vai coçando mais prá baixo,
Coça aqui na minha bunda.
Que coceirinha gostosa,
Coça aqui que é meu fraco,
Fico todo arripiado
Quando coçam o meu SUVACO!
Coçá, coçá,
Coçá, coçá, coçá,
Quá, quá, quá, quá, quá
Quá, quá, quá, quá, quá
A turma é mesmo boa,
É do balacobaco,
SUVACO, SUVACO, SUVACO!!!!

Tipos de frevo
Frevo de rua
Genuinamente e puramente instrumental, não tem voz e nem letra. É o mais popular. Dentro desse tipo de frevo, existem três modalidades:

* Abafa: é uma disputa entre duas orquestras. Uma quer abafar o som da outra.
* Ventania: é tocado muito rápido, ficando para as palhetas (saxofones) sua execução.
* Coqueiros: toca notas longas e agudas nos metais (trompetes e trombone).
Frevo-canção
Possui a mesma pegada instrumental do frevo de rua, mas com letra. Tem metais, percussão e madeira.
Frevo de bloco
Tem letra e exalta às troças e blocos. Tem uma formação instrumental chamada de Banda de Pau e Corda (clarineta, sax, flauta transversal, bandolim, violão, cavaquinho e banjo) e conta com acompanhamento de um coro feminino ou misto