segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Blocos, orquestras e artistas anseiam por um local para o frevo em Brasília

Ana Clara Brant
Publicação: 19/02/2011 08:00 Atualização: 19/02/2011 01:26
http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/diversao-e-arte/2011/02/19/interna_diversao_arte,238579/blocos-orquestras-e-artistas-anseiam-por-um-local-para-o-frevo-em-brasilia.shtml

Olinda é aqui: Jorge Marino (à frente) e demais integrantes dos grupos de frevo de Brasília

“Pernambuco tem uma dança que nenhuma terra tem. Quando a gente entra na dança não se lembra de ninguém… É uma dança, que vai e que vem. Que mexe com a gente. É o frevo, meu bem!” Os versos do compositor pernambucano Capiba (1904-1997) resumem como poucos a magia e a efervescência desse ritmo brasileiro, nascido em 1907. Mais do que brasileiro, ele é essencialmente pernambucano e não se faz presente apenas em seu estado de origem, mas em outros cantos dos país.
Olinda é aqui: Jorge Marino (à frente) e demais integrantes dos grupos de frevo de Brasília (Sever J. Paz  e Pablo Alejandro sobre foto Rafael Ohana/CB/D.A Press )
Em Brasília, não é de hoje que se respira frevo por aqui. Segundo dados do historiador pernambucano Leonardo Dantas, os primeiros blocos desse gênero musical que surgiram no DF são datados de 1967: o Vassourinhas e o Lenhadores. Um ano depois, surgia o Pás Dourada. Já nas décadas seguintes, vieram o Batutas do Cruzeiro (1973) e o Bola de Ouro (1985). “Esses blocos nem existem mais e só na década de 1990 é que apareceram os novos como o Galinho de Brasília (1992) e o Menino da Ceilândia (1995). Não há como negar, até pela grande colônia de gente de Pernambuco e de outros estados do Nordeste, que a capital federal sempre teve frevo. É algo consolidado. Não existe carnaval em Brasília sem ele”, comenta o recifense Fabiano Medeiros, maestro da orquestra Marafreboi de Brasília, especializada em ritmos regionais como o maracatu, o bumba-meu-boi e, claro, o frevo.

Marcado, alegre, improvisado, descontraído e, sobretudo, espontâneo. Reza a lenda que a palavra frevo vem de ferver, por corruptela, “frever”, por isso, é sinônimo de agito, efervescência, rebuliço. Hoje, a partir das 14h, os brasilienses vão poder conferir um pouco dessa folia animada. A Troça Carnavalesca Mista (TCM) Suvaco da Asa vai fazer, pelo sexto ano consecutivo, a abertura informal do carnaval candango, levando o melhor do frevo para as ruas do Cruzeiro e do Sudoeste. O bloco nasceu de uma maneira despretensiosa, e foi crescendo ao longo dos anos. Já trouxe até uma legítima orquestra de frevo de Recife, mas, desde o ano passado decidiu fortalecer a cultura local. “Hoje, a gente tem a participação da orquestra de Brasília, a Marafreboi, que conta com músicos de vários lugares, inclusive de Pernambuco. O carnaval tem essa magia de levar as pessoas de uma maneira espontânea às ruas para fazerem o que bem entenderem, se vestirem como quiserem, e ainda sem precisar pagar ingresso. É maravilhoso isso”, comenta um dos diretores do Suvaco, Rodrigo Hilário.

Compositores
Para 2011, a grande novidade da troça é o lançamento do seu hino oficial, composto pelo pernambucano Zezinho das Candongas e por seu filho Fábio Liberal, que faz uma referência à balbúrdia e à irreverência dos seis anos do Suvaco da Asa. “Na verdade, o meu pai fez uma poesia em homenagem ao Suvaco há uns dois anos e então me pediram para eu fazer a melodia. Acabou virando o hino e vamos tocar muito durante o desfile”, revela Fábio. Apesar de compor esporadicamente, ele acredita que a cidade já tem uma safra de compositores de frevo locais, formada, principalmente, por pernambucanos aqui radicados ou gente de outros estados do Nordeste. “É um povo que tem paixão pela sua cultura, pela sua terra, e faz questão de propagar e manter as tradições mesmo de longe”, diz.

Um deles é Josildo Santos, 35 anos, alagoano que vive em Brasília há 16. Professor de percussão e um dos integrantes da Marafreboi, ele acaba de compor o hino do bloco Menino da Ceilândia. “A gente faz um trabalho de musicalização com as crianças e já temos muitas tocando, dançando e lendo partituras desse ritmo musical. Em breve, vamos ter muita gente criando mais frevo por aqui”, acredita. Para o fundador do bloco ceilandense, Aílton Velez, o trabalho desenvolvido é mais uma prova de que se tem frevo o ano inteiro em Brasília, já que o Menino da Ceilândia se apresenta todos os meses em diversos pontos do DF e também fora daqui. “Nossa origem está no frevo, e nossa associação, que também é um Ponto de Cultura, oferece oficinas de música, artes plásticas, cordel, além de apresentações artísticas para resgate e disseminação da cultura nordestina. O objetivo é capacitar e estar sempre formando mais gente ligada ao frevo”, destaca.

Um dos compositores mais tradicionais de frevo na cidade é Dinaldo Domingues, 70 anos, responsável pelos hinos de um dos blocos carnavalescos mais queridos da capital federal: o Galinho de Brasília. Saudoso do agito de sua terra natal, Pernambuco, o artista sempre fez questão de passar o carnaval por lá, mas em 1992, em virtude do confisco das poupanças dos brasileiros pelo então governo Collor, os foliões tiveram que encontrar uma alternativa para não perder a festa nacional mais aguardada do ano. “A gente ficou sem dinheiro para viajar e então criamos um bloco por aqui mesmo. Ele começou pequeno e hoje é essa festa grande que todo mundo conhece. Naquela época, não havia muito entrosamento entre o pessoal do frevo. Hoje, é bem mais forte e temos várias opções desse estilo na cidade”, reconhece Dinaldo.

Sombrinhas coloridas

Não se pode falar de frevo sem associá-lo à coreografia contagiante e ao seu elemento mais típico: a inseparável sombrinha colorida. Reza a lenda que o frevo é uma mistura de maxixe, marcha, quadrilha, danças europeias e, principalmente, dos movimentos e rasteiras da capoeira. Aliás, a sombrinha teria surgido dessa luta de rua. Os capoeiristas usavam guarda-chuvas velhos e usados como apoio para os passos e também como arma de defesa. Hoje, a sombrinha é o ornamento que mais caracteriza o passista e um dos principais símbolos do carnaval pernambucano. “Não há passista sem sombrinha e também sem animação, sem disciplina. O frevo tem uma energia tão intensa que não há como não se envolver”, ressalta um dos principais representantes do frevo na cidade que, curiosamente, é gaúcho de nascimento, mas pernambucano de alma e coração, o professor de dança e ex-administrador de empresas Jorge Marino, 69 anos.

Desfile do Suvaco da Asa

Concentração: hoje, a partir das 14h, no Quiosque da Codorna (Quadra 10 do Cruzeiro Velho). Desfile: a partir das 17h, pelas ruas do Cruzeiro e do Sudoeste.

Coceira no Suvaco
(Frevo de Fábio Liberal e Zezinho das Candongas)
(Em homenagem à Troça Carnavalesca Mista Suvaco da Asa)

O frevo é igual uma coceira,
Quando começa ninguém quer mais parar,
Coça aqui, coça ali, ai, ai
Coça acolá
Quanto mais a gente coça
Mais tá querendo coçar
Coça, coça, minha gente,
Ai que coceira profunda,
Vai coçando mais prá baixo,
Coça aqui na minha bunda.
Que coceirinha gostosa,
Coça aqui que é meu fraco,
Fico todo arripiado
Quando coçam o meu SUVACO!
Coçá, coçá,
Coçá, coçá, coçá,
Quá, quá, quá, quá, quá
Quá, quá, quá, quá, quá
A turma é mesmo boa,
É do balacobaco,
SUVACO, SUVACO, SUVACO!!!!

Tipos de frevo
Frevo de rua
Genuinamente e puramente instrumental, não tem voz e nem letra. É o mais popular. Dentro desse tipo de frevo, existem três modalidades:

* Abafa: é uma disputa entre duas orquestras. Uma quer abafar o som da outra.
* Ventania: é tocado muito rápido, ficando para as palhetas (saxofones) sua execução.
* Coqueiros: toca notas longas e agudas nos metais (trompetes e trombone).
Frevo-canção
Possui a mesma pegada instrumental do frevo de rua, mas com letra. Tem metais, percussão e madeira.
Frevo de bloco
Tem letra e exalta às troças e blocos. Tem uma formação instrumental chamada de Banda de Pau e Corda (clarineta, sax, flauta transversal, bandolim, violão, cavaquinho e banjo) e conta com acompanhamento de um coro feminino ou misto

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