domingo, 2 de abril de 2023

A rotina do Sol Nascente, a favela que desbancou a Rocinha como a maior do Brasil

 

Por Paula Ferreira — Brasília

Favela Sol Nascente, a curta distância do poder em Brasília: condições precárias de saneamento e acesso à água
Favela Sol Nascente, a curta distância do poder em Brasília: condições precárias de saneamento e acesso à água Fernando Donasci

Em 2003, o compositor Paulo César Pinheiro gravou na canção “Nomes de Favela” uma constatação inevitável: “agora que cidade grande é a Rocinha”. Naquele mesmo ano, a mais de mil quilômetros da favela carioca, uma nova comunidade ainda engatinhava e começava a crescer no Distrito Federal a cerca de meia hora do Palácio do Planalto: a favela Sol Nascente. Vinte anos depois, neste mês, a comunidade no entorno de Brasília deixou a cidade grande da Rocinha para trás e foi considerada pelo IBGE a maior favela do Brasil. Dados preliminares do Censo mostram que o Sol Nascente tem 32.081 moradias, enquanto a Rocinha, no Rio de Janeiro, tem 30.955.

    O IBGE considera como favela os territórios que foram ocupados de forma precária e que não possuem acesso a serviços públicos essenciais. A curta distância com o centro do poder não blindou Rejane Lopes da Silva, de 44 anos e mãe de dez filhos, de uma vida de escassez. Em sua casa de chão de terra na Fazendinha, comunidade mais vulnerável do Sol Nascente, o arroz ainda é feito em um fogareiro no chão, não há rede de esgoto, e a água só chega uma vez ao dia.

    — Estou vivendo a vida como Deus dá. Depois que deu aquela doença as coisas ficaram ainda mais difíceis — diz, em referência à pandemia de Covid-19. — Estar em um lugar tão perto do governo e passar por isso é doído. Eles deviam ver as famílias que mais precisam.

    No terreno de Rejane, vivem cerca de 20 pessoas da família. Sua filha mais velha tem 21 anos, e a mais nova, 5. Ela e pelo menos dois filhos são beneficiários do Bolsa Família. Além do benefício, doações e o trabalho do marido como catador mantêm o sustento da família.

    De acordo com o Governo do Distrito Federal, oficialmente apenas 10% da população do Sol Nascente/Pôr do Sol é beneficiária do programa. O Governo do Distrito Federal (GDF) explica, no entanto, que o número real deve ser maior. Isso porque o Centro de Assistência Social (CRAS) responsável pela região é a unidade mais recente da política assistencial do DF, inaugurado em 2021. Devido a isso, as famílias da região estavam cadastradas em outras unidades da Ceilândia, o que dificulta o cálculo exato.

    Diabética, Rejane reclama do acesso à saúde. Atualmente, há uma Unidade Básica de Saúde (UBS) e uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) para atender aos cerca de 91 mil habitantes do Sol Nascente/ Pôr do Sol, segundo projeção da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan). A comunidade ainda conta com o Hospital da Cidade do Sol.

     Família cozinha num fogareiro no chão: mesmo sem serviços público essenciais, famílias dizem que Sol Nascente não é favela  — Foto: Fernando Donasci

    Família cozinha num fogareiro no chão: mesmo sem serviços público essenciais, famílias dizem que Sol Nascente não é favela — Foto: Fernando Donasci

    As ruas de terra do trecho 3 do Sol Nascente são mais largas e vazias do que algumas vielas da Rocinha, mas nelas ainda persistem problemas comuns, como a dificuldade de transporte, a falta de saneamento e as construções irregulares, que indicam por que o local que tem status de Região Administrativa (Sol Nascente/ Pôr do Sol) foi classificado como favela pelo IBGE. Apesar disso, o GDF rejeita a classificação. Ao GLOBO, a Administração Regional do Sol Nascente afirmou que “não reconhece a região como favela, mas sim como uma região administrativa em grande desenvolvimento”.

    Mesmo com famílias vivendo em situação precária, a Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb) estima que cerca de 90% da região seja atendida com redes coletoras de esgoto. Os moradores da Fazendinha veem as máquinas instalarem manilhas a alguns metros de suas casas, mas ainda não são beneficiados por elas.

    Termo “favela” rejeitado

    O crescimento desordenado da favela, que em relação ao Censo de 2010 aumentou 31%, é um dos aspectos que dificulta a expansão do serviço, segundo o governo. Além disso, a existência de ocupações em áreas de proteção permanente ou em regularização, diz o GDF, faz com que a cobertura de distribuição de água (que beira 98% da cidade de acordo com dado oficial) muitas vezes não chegue a alguns lugares.

    As características do relevo facilitam a expansão da favela. Enquanto na Rocinha é acidentado, no Sol Nascente a geografia favorece a ocupação com terreno plano e de acesso facilitado.

    — A condição topográfica favorece o Sol Nascente a ter mais crescimento e mais ocupação. Um segundo aspecto é que o Distrito Federal ainda é uma região que atrai migrações. O padrão de migrações no Brasil inteiro cresceu, mas de uma maneira mais acelerada no Centro-Oeste e para Brasília do que para o Rio de Janeiro — explica o professor do da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UnB, Benny Schvarsberg. — Os dados da dinâmica migratória e demográfica brasileira mostram que não foram as grandes metrópoles como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte que mais cresceram. É como se houvesse uma saturação delas, e esses são fatores que estimulam e fazem com que a favela maior do Brasil tenha passado a ser o Sol Nascente.

    Quando Ivete Bandeira, 52 anos, chegou ao Sol Nascente nos anos 2000 “ainda era tudo mato”. A líder comunitária, assim como boa parte dos primeiros moradores e dos que chegam ainda hoje na comunidade, foi para lá porque não queria mais viver de aluguel. Desde o final da década de 1990, proliferou a venda de pequenos terrenos no local a preço baixo, alguns moradores chegaram a pagar cerca de R$ 2 mil por um pedaço de terra. Ivete trocou um carro popular usado por um lote onde começou a construir sua casa. Ela criou uma das primeiras creches comunitárias do local e hoje coordena o Instituto Pingo de Ouro, que oferece aulas de esporte, distribui cestas básicas, e realiza ações sociais na favela.

    Em uma volta pelo Sol Nascente, chama atenção a quantidade de obras sociais e igrejas pelo território.

    Atualmente, a região administrativa do Sol Nascente/Pôr do Sol tem cinco escolas públicas que atendem ensino fundamental e três creches conveniadas. Até 2024, o governo afirma que finalizará outras duas unidades, uma de ensino fundamental e outra para a primeira infância. No Sol Nascente, moradores se queixam do risco de assaltos, sobretudo à noite, mas garantem que “é muito raro” presenciar troca de tiros. Dados da Secretaria de Segurança Pública do DF mostram que em todo o ano passado foram registrados 509 crimes contra o patrimônio, o que inclui roubo de pedestres, de casas e carros; assaltos em ônibus e comércio. Em relação ao número de registros de homicídio, foram 17.

    — Aqui é um bairro pobre do Distrito Federal, mas chegar a ser favela não concordo. O ponto é os governantes entrarem no Sol Nascente e fazerem as coisas acontecerem —protesta ela.

    O estereótipo de lugar violento e pobre faz com que os moradores rejeitem a classificação. Já nas favelas cariocas, apesar dos problemas causados pela ausência do estado, há a percepção do termo a partir de um viés identitário. A cientista política da Fiocruz Sonia Fleury explica que a ressignificação do termo “favela” ocorre de maneiras diferentes em cada local:

    — Até mesmo o estado trata a favela de forma muito preconceituosa. O IBGE classifica como “aglomerados subnormais”, com habitações precárias, então é sempre desqualificador. No Rio não foi sempre que as pessoas se identificaram positivamente com o termo “favela”. É um processo de construção de uma identidade.

    quinta-feira, 30 de março de 2023

     Escolas rurais do DF recebem circuito gratuito de teatro

    Projeto "Na trilha do teatro" oferece circuito gratuito de formação de plateia por mediação pedagógica, apresentação de espetáculos e oficina de musicalização

    Mila Ferreira
     (crédito: Lúcio Gomes)(crédito: Lúcio Gomes)

    A Cia Burlesca de teatro está promovendo, em várias Regiões Administrativas do Distrito Federal, um projeto gratuito que incentiva estudantes de escolas rurais a vivenciarem a experiência do teatro. O projeto "Na trilha do teatro" oferece um circuito gratuito de formação de plateia para estudantes do ensino fundamental por meio de três ações: mediação pedagógica, espetáculo O Violinista Mosca Morta e oficina de musicalização infantil. As atividades começaram no dia 28 de março e vão até o dia 18 de maio. Confira programação completa ao final da matéria.

    Com uma metodologia que transforma o espectador em sujeito ativo, o projeto proporciona, no primeiro momento, uma mediação que ajuda o público de estudantes a se familiarizar com a linguagem teatral. O intuito é provocar os estudantes a pensarem sobre o que é, como se faz e porque se faz teatro. Assim, pode-se despertar o gosto pelas artes cênicas e a vontade de conquistar o prazer da autonomia interpretativa em sua relação com o espetáculo. Num segundo momento, após a apresentação da peça, esse trajeto lúdico contará ainda com oficina de musicalização com as mesmas turmas – uma expedição completa pelos caminhos do teatro.

    Desde o início de sua atuação, em 2008, a Cia. Burlesca desenvolve ações com e para escolas públicas, auxiliando no despertar do olhar crítico e consciente do estudante para assistir a um espetáculo e estimulando um diálogo entre espectador e artistas da obra. Essa relação do grupo com as escolas rurais nasceu por meio de diferentes projetos assinados pela Cia. Burlesca, sempre transitando entre a apresentação gratuita de espetáculos, mediações artístico-pedagógicas e ações formativas diversas.

    O espetáculo

    Voltado para o público infantil, O Violinista Mosca Morta, interpretado por Pedro Caroca e dirigido por Mafá Nogueira, traz à cena a linguagem da palhaçaria e da música, construído pelo humor físico, sem texto falado, em que o palhaço Seu Coco, em seu primeiro concerto de violino, é importunado por uma mosca que aparece no palco. Trava-se então uma batalha com o inseto e, mesmo abalado, o palhaço não desiste e segue até o último compasso, a última nota, o último zumbido.

    A equipe técnica e artística é colocada em contato direto com os estudantes, por meio de uma conversa mediada antes e após o espetáculo, com o objetivo de estimular não só a formação de plateias, mas também a formação de potenciais artistas.

    Oficinas

    O laboratório de musicalização favorece o desenvolvimento da sensibilidade e criatividade, da imaginação e memória, concentração e atenção, também contribuindo para a consciência corporal da criança. Por isso, após a apresentação do espetáculo, a música presente no espetáculo O Violinista Mosca Morta será motivo para despertar nos participantes o gosto pela música na prática, por meio de brincadeiras e jogos conduzidos pela equipe.

    Além disso, uma cartilha de apoio será produzida com conteúdo lúdico para as crianças aproveitarem durante e depois a realização do projeto, e conceitos que se comunicam com o que foi abordado na preparação, no espetáculo e no laboratório.

    FICHA TÉCNICA

    Coordenação Geral: Pedro Caroca

    Coordenação de Produção: Julie Wetzel

    Gestão Financeira: Marino Alves

    Assistente de Produção: Pedro Henrick

    Arte-educadores: Lyvian Sena, Patrícia Barros e Pedro Caroca

    Direção do espetáculo: Mafá Nogueira

    Operação de som: Jullya Graciela

    Palhaço Seu Cocó: Pedro Caroca

    Artista Gráfico: Nara Oliveira

    Fotógrafo: Webert da Cruz

    Intérprete de Libras: Tatiana Elizabeth

     

    DATAS DE APRESENTAÇÃO

    Em Março

    EC Aguilhada - São Sebastião

    28/03 - formação e espetáculo

    30/03 - musicalização

     

    Em Abril

    EC Café sem Troco - Paranoá

    04/04 - formação e espetáculo

    06/04 - musicalização

     

    EC Córrego do Arrozal - Sobradinho

    11/04 - formação e espetáculo

    13/04 - musicalização

     

    EC Aspalha - Lago Norte

    18/04 - formação e espetáculo

    20/04 - musicalização

     

    EC Córrego das Corujas - Ceilândia

    25/04 - formação e espetáculo

    27/04 - musicalização

     

    Em Maio

    EC Kanegae - Riacho Fundo

    09/05 - formação e espetáculo

    11/05 - musicalização

     

    Escola Bilíngue Libras e Português- Taguatinga

    MATUTINO

    16/05 - formação e espetáculo

    18/05 - musicalização

    segunda-feira, 27 de março de 2023

    Grupo Via Sacra faz grande ensaio antes da encenação no Morro da Capelinha

     MORRO DA CAPELINHA

    Grupo Via Sacra faz grande ensaio antes da encenação no Morro da Capelinha

    O último grande ensaio antes da encenação sobre a vida, a morte e a ressurreição de Jesus no Morro da Capelinha, aconteceu neste domingo (26/3). Em 2023, a Via Sacra de Planaltina completa 50 anos

    Eduardo Fernandes
    postado em 27/03/2023 03:55
    Edição de 2023 promete muitas novidades no Morro da Capelinha -  (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)Edição de 2023 promete muitas novidades no Morro da Capelinha - (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

    O Grupo Via Sacra realizou, neste domingo (26/3), o último encontro antes da encenação sobre a vida, a crucificação e a ressurreição de Jesus, no Morro da Capelinha, em Planaltina. A apresentação acontecerá no mesmo local do ensaio, na Sexta-Feira Santa, 7 de abril, com início previsto para às 14h30. Cerca de 1.400 pessoas estão envolvidas no projeto, que conta com atores, coordenadores, cenografia e figurantes. A expectativa de público varia de 70 a 150 mil pessoas.

    Neste ano, a tradicional Via Sacra completa 50 anos de existência. O coordenador geral da apresentação, Preto Resende, 64 anos, está há quase 4 décadas participando da encenação que representa a vida e morte de Jesus. Nos ajustes finais da preparação, ele destaca que, nesta edição, a passagem bíblica tida como tema está presente no livro de Lucas 1:49 — "Porque realizou em mim maravilhas aquele que é poderoso e cujo nome é Santo".

    “Nós sempre tivemos um lema: realismo, emoção e fé. Mas, assim como nos outros anos, também fizemos a escolha de um texto da Bíblia. Para este, decidimos que fosse o de Lucas”, detalha. Depois de um hiato, em razão da pandemia de covid-19, a Via Sacra volta para o segundo ano consecutivo de encenação.

    Preto Resende diz que a espera para colocar em prática tudo o que foi treinado nos ensaios está enorme. O ciclo de encontros entre todo o grupo encerrou-se neste domingo. Agora, haverá ensaios menores ao longo da semana que antecede a apresentação.

    • Edição de 2023 promete muitas novidades no Morro da CapelinhaMarcelo Ferreira/CB/D.A Press
    • 26/03/2023 Crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF - Planaltina DF, Morro da Capelinha, ultimo ensaio para a encenação da Via Sacra. Encontro de Maria de Nazaré com Jesus Cristo. Atores, Marcelo Augusto Ramos, interpreta o personagem de Jesus Cristo com Milena Guimarães interpreta Maria de Nazaré.Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
    • 26/03/2023 Crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF - Planaltina DF, Morro da Capelinha, ultimo ensaio para a encenação da Via Sacra. Marcelo Augusto Ramos, interpreta o personagem de Jesus CristoMarcelo Ferreira/CB/D.A Press
    • 26/03/2023 Crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF - Planaltina DF, Morro da Capelinha, ultimo ensaio para a encenação da Via Sacra. Marcelo Augusto Ramos, interpreta o personagem de Jesus CristoMarcelo Ferreira/CB/D.A Press
    • 26/03/2023 Crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF - Planaltina DF, Morro da Capelinha, ultimo ensaio para a encenação da Via Sacra. Marcelo Augusto Ramos, interpreta o personagem de Jesus CristoMarcelo Ferreira/CB/D.A Press
    • Edinalva (à esquerda) e Maria (direita) acompanharam o último ensaio da apresentação da Via SacraEduardo Fernandes / CB / DA PRESS

    Principal personagem

    Ele começou como apoiador da Via Sacra e trabalhou nos bastidores do evento. No entanto, há praticamente uma década, foi entregue a Marcelo Augusto Ramos, 35, interpretar Jesus de Nazaré na Via Sacra.

    “É uma experiência que mudou totalmente a minha vida. É algo muito grandioso de ver e de participar”, relata. A rotina de ensaios, vivida arduamente durante 40 dias ininterruptos, tem sido difícil, mas é recompensadora. Entre os estudos e o transporte de Arniqueira — local em que reside — até Planaltina, é complicado. Mas, mesmo com os obstáculos, ele se diz muito feliz por estar mais uma vez protagonizando na peça.

    Ator amador, ele é católico desde pequeno. Crismado, batizado e casado na igreja, tem uma vida completamente devota à religião. Na hora da atuação, principalmente no momento em que é flagelado, tudo é de verdade e “dói” bastante como o mesmo afirma. Antes, o chicote era usado em câmera lenta. Mas, desta vez, será mais real e impactante.

    Para esta edição, Marcelo diz que o grupo está empenhado para mostrar o trabalho de suas vidas. “Esse ano vai ser especial, temos grandes atrações e muitas surpresas”, reitera. Aos que não assistiram ainda, o ator convida todos para uma grande experiência sobre a vida, morte e ressurreição de Jesus.

    Mergulho na fé

    Maria, mãe de Jesus, também se faz presente como protagonista. Para representar esse importante papel, Milena Guimarães, 45, descreve a emoção que é poder participar de algo tão bonito quanto a Via Sacra. “É uma coisa inexplicável. Me faltam até palavras para falar sobre tanto sentimento. Encenar sobre a vida da mulher que mudou toda a história da humanidade não tem preço”, ressalta.

    Desde a adolescência assistindo a história de Jesus ao vivo no Morro da Capelinha, Milena, por algum tempo, deixou de participar, mas volta, pelo quarto ano seguido, interpretando Maria.

    Para garantir a qualidade na atuação, Milena revela que transitou, além do mergulho na própria espiritualidade, em estudos, séries e tudo que envolvesse a história de Maria, para continuar aprendendo ainda mais sobre a personagem. “Leio livros, estudo a Bíblia, mas a inspiração também parte da oração. Peço a Maria licença para representar um pouco do que ela foi”, finaliza.

    Fiéis

    No sol escaldante de meio-dia, os devotos marcaram presença para assistir ao último ensaio antes do espetáculo. A aposentada Maria Rodrigues, 58, mora no Arapoanga. Fã da Via Sacra desde quando era criança, comparecer ao evento nesta época do ano é uma tradição.

    No entanto, em anos anteriores, complicações de saúde não lhe permitiram contemplar a apresentação. Uma dor no joelho ainda causa algumas preocupações. Mas, mesmo assim, não consegue deixar de acompanhar. “Quando eu era mais jovem, subia esse morro aqui todinho. Mas chegou a idade e as coisas foram mudando um pouco. Até grávida de três meses eu subi aqui. Paguei promessa e tudo”, relembra, em tom descontraído.

    Ao lado dela, a técnica em nutrição Edinalva Lúcia Ribeiro, 61, nasceu em Planaltina e vive no berço da Via Sacra desde sempre. Quando jovem, subia o morro por meio de uma corda que ficava no local, no passado. Depois da pausa em razão da crise sanitária, essa é a primeira vez que retorna para o espetáculo.

    “Acho tudo muito emocionante. No ensaio, chorei horrores. É algo que toca muito, no dia vai ser mais lindo ainda”, comenta. Na encenação, promete comparecer com toda a família. Edinalva se diz ansiosa, porque o espetáculo tem uma estrutura de alto nível, com fogos e um belo figurino. “Se Deus quiser, estarei aqui para ver”, completa.